(Técnica por Pedro Antunes & Amigos)

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mercredi, novembre 22, 2006

Crónica (2) do Prof. Carlos Garcia – 15.06.06


Carlos Alberto Ferrão Garcia
Licenciado em Educação Física
Professor do Ensino Básico na Escola EB 2,3 Mestre Domingos Saraiva (Algueirão)
Preparador Físico da Equipa Sénior de Hóquei em Patins do Sport Lisboa e Benfica entre 1998 e 2006
Formador da European Handball Federation


"A FORMAÇÃO FÍSICA DO PRATICANTE DESPORTIVO DE COMPETIÇÃO"

A formação desportiva, para além do respeito pelas características próprias do desenvolvimento do indivíduo, da natureza do contexto em que a actividade se realiza e da especificidade do conteúdo a ensinar, não deve visar uma transmissão rápida de ensino, ou seja nada de performances imediatas. Torna-se pois necessário desenvolver ou criar em cada indivíduo o máximo de possibilidades compatíveis com o seu equipamento biológico e psicológico.

O objectivo da formação desportiva, centra-se no desenvolvimento das capacidades corporais do indivíduo, de acordo com as práticas sujeitas a normas instituídas socialmente através de padrões motores inscritos no domínio da eficiência, ou seja os campeões referência do momento. Valorizar e complementar a educação desportiva do jovem praticante e rentabilizar a progressão do jovem praticante no sentido de o encaminhar para o alto rendimento, promovendo a detecção de talentos serão objectivos sempre a ter em conta por um treinador profissional. Esta formação deverá utilizar todos os tipos de condutas motoras visando uma melhoria da bagagem técnica e táctica.

Na formação desportiva, deveremos também preocupar-nos com os perigos da especialização precoce. Actualmente é tão importante respeitar os níveis de desenvolvimento, afectivo, psicomotor e cognitivo dos jovens, como respeitar as características que o desporto moderno assumiu na sociedade competitiva actual.
O perigo da especialização precoce começa logo na aquisição de automatismos, mas, o retardamento do crescimento esquelético, desajustamentos posturais, traumatismos articulares, problemas ligamentares e tendinosos e problemas cardíacos e hormonais, deverão ser tomados em consideração de forma a evitá-los.
No global, deveremos procurar uma atenção qualitativa ao reforço da tonicidade e suas repercussões ao nível ligamentar, muscular e tendinoso e dedicar uma maior insistência na educação postural e melhoramento da estruturação espácio-temporal como meio de suporte às exigências da actividade.

As práticas físicas a propor deverão também visar a educação e a formação da personalidade do jovem atleta, pelo que a preparação física assume importância básica.
Sem pretender desvalorizar a preparação técnica e táctica, o que determina o nível dos gestos e dos movimentos é sem dúvida a componente física. Torna-se necessário ter em conta este aspecto primordial que deve estar presente em todas as sessões de treino. A preparação física é a base de todas as preparações e deve ocupar um espaço significativo em cada período de uma época desportiva.
A preparação física é o nível do desenvolvimento das possibilidades motoras do atleta, obtidas com a repetição sistemática dos exercícios físicos. Significa a melhoria das qualidades motoras, o domínio de uma variedade larga de habilidades e o desenvolvimento dos índices morfológicos e funcionais do organismo em conformidade com as exigências da prática desportiva.
O desenvolvimento do processo da preparação física é condicionado por uma série de factores determinantes, como o estado de saúde, o desenvolvimento físico, as aptidões motoras e as qualidades psíquicas.

Como sabemos, toda a técnica e táctica assim como as características físicas resultam das qualidades motoras básicas. Se estas se apresentarem de uma forma deficiente na estrutura biológica do jovem, mesmo com um processo bom de preparação, nunca passaremos de um resultado mau. Consequentemente, o primeiro passo na preparação física é a selecção / avaliação do praticante.
A preparação física é trabalhada em duas vertentes, a da preparação física geral e a da preparação física específica.
A primeira tenta enriquecer a bagagem motora do praticante. O seu alvo principal é aumentar a capacidade funcional do organismo e desenvolver as qualidades motoras impostas por um determinado nível da preparação dos atletas. É fundamentalmente uma preparação multilateral.
A segunda é um processo da manipulação selectiva dos grandes exercícios e habilidades motoras, de acordo com as características do esforço específico da modalidade desportiva e de acordo com as exigências dos resultados. Faz a ligação entre as qualidades motoras e o automatismo da modalidade e entre o desenvolvimento morfológico funcional e a técnica e a táctica da actividade.

Perceber e dominar a preparação física tem de passar obrigatoriamente pelo conhecimento do conceito de CARGA no treino desportivo. E nesta matéria torna-se primordial a atenção para o binómio actividade – repouso.

A preparação para cargas elevadas, ou seja o trabalho contínuo de crescimento da carga, deverá ter em conta que o atleta só suportará cargas elevadas, se tiver sido preparado nesse sentido. Significa que teve condições e sobretudo tempo para tal. Nesse sentido o aumento da carga, deverá estar relacionado com o desenvolvimento do atleta de forma a que o seu domínio seja total. Verificamos com frequência que a má gestão do tempo é normalmente o factor determinante. Deveremos ter então em consideração, que a preparação física do jovem praticante assentará nos seguintes dois aspectos:

1. A orientação da carga de treino.

2. Os objectivos metodológicos definidos em função da orientação da carga.

Para o primeiro ponto a carga de treino terá que ser definida em função...
- da caracterização do atleta no que respeita a factores genéticos, crescimento, maturação, níveis da formação, níveis do desenvolvimento das capacidades motoras;
- a caracterização da modalidade desportiva, no campo motor, psíquico e metabólico;
- e da caracterização do quadro competitivo.

Sobre o segundo ponto, e resultante das caracterizações atrás indicadas, deveremos
procurar os seguintes três objectivos metodológicos:

1- Sistematização do treino numa perspectiva a longo prazo, com uma identificação profunda dos conteúdos, das metodologias, dos métodos e dos processos do controlo e da avaliação.
2- Organização adequada do desenvolvimento das capacidades motoras, precisando claramente as relações entre volume, intensidade e densidades do treino.
3- Respeito pelo princípio da progressão da carga como um dos mais importantes na melhoria das adaptações funcionais do organismo que levam à melhoria da prática desportiva.


Este é o Complemento da Crónica n° 2 de Professor Carlos Garcia.

"Obrigado Carlos. Ficamos já à espera da sua próxima crónica. Um abraço. Pedro"

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